por uns minutos tive Cid como um herói, quem diria. ou anti herói. na verdade ele me pareceu um chapolin colorado, aquele que aparece na hora exata e faz o que ninguém recomendaria.
dizem que os irmãos Gomes são cabras machos, o que já é uma tremenda fuleiragem, porque cabra macho é bode, a não ser que se trate de uma cabra trans.
antônio carlos magalhães e fernando collor de melo (vai em minúsculas mesmo) também tinham fama de serem bode trans.
e são abjetas criaturas. macheza sempre foi sinônimo de prepotência.
essa caricatura de macho dos Gomes, que na verdade é destempero e arrogância, gerou um fato inusitado.
alvejaram El Cid, e o cabra sangrou, o que o coloca em uma categoria humana distinta daquele seu colega de política que por enquanto nos preside.
este num sangra com facada, com tiro e nem com estaca de madeira no peito.
levemos a coisa a sério: é inacreditável que policiais armados estejam em motim, usando familiares como escudo e a sociedade como alvo, levando o terror à população sobre o pretexto de pedirem aumento salarial.
sim, eles ganham mal, mas nem por isso têm o direito de barbarizar o Estado.
quando a greve do trabalhador civil, desarmado, é considerada abusiva ou ilegal, a polícia, armada e fardada, vai lá e senta a cacetada em pais e mães de família.
e quando o ilegal é o cabra de farda? e agora quem poderá nos proteger?
é nessas horas que a gente precisa de um sujeito que saiba pilotar uma retroescavadeira.
e Cid parece ter frequentado a autoescola, porque o fez com maestria.
agora eu te pergunto, de onde diabos saiu aquele veículo?
Cid veio pilotando o estranho carango de casa e o deixou estacionado numa esquina esperando o momento adequado para entrar em cena? por se acaso, como se diz em español.
aí seria premeditação.
ou será que o trator passava pelo caminho e El Cid, movido por forte emoção e senso de urgência, arrancou o motorista da boléia e assumiu o comando, como um super-homem do sertão?
acho mais provável essa.
não nos esqueçamos que o fato se deu em Sobral, terra natal de Didi Mocó. e a coisa toda cheirou-me a um filme dos Trapalhões.
se o veículo pertencia ao município e estava a serviço, o desvio de percurso foi, também, um desvio de finalidade, o que pode gerar um processo administrativo.
Cid, é bom que se diga, tentou o diálogo, queria resolver tudo na saliva e na garganta.
não lhe deram ouvidos.
então, ele voltou, megafone em punho, e falou grosso: ligou o cronômetro e deu cinco minutos para os amotinados se desamotinarem.
deram-lhe uma banana.
mas Cid não é de levar desaforo pra casa; por isso, o inusitado aconteceu.
você sabe, meu caro folião, quando um irmão se chama Ciro e o outro Cid, você já percebe o tamanho da humildade da moçada, eles não vieram ao mundo a passeio.
e quando passeiam é montado numa patrola.
há imagens de um sujeito atirando no senador cearense, o atirador tinha o rosto oculto. mas há de ser desmascarado e pagar pelo crime que cometeu.
legítima defesa?
ah, cara, Cid tava blefando. claro que ele não sairia esmagando as pessoas como um doido varrido.
Sobral é terra de Didi, mas também é berço de Belchior e já recebeu a inusitada visita de Albert Einstein, cabelo arrepiado e língua de fora.
há razão na loucura!
sinto muito pelo o que ocorreu com Cid, o seu agressor é um covarde e tem que ser punido com os rigores da lei.
sinto muito que El Cid tenha que ter chegado a essa situação limite.
torço pela sua recuperação e a sua volta à refrega política, e que da próxima vez que for de retro use um colete à prova de bala e um capacete blindado; todo super-herói tem uma carapaça, amigo.
ir de peito aberto contra uns caras que já tinham se mostrado dispostos a tudo, e já estavam a delinquir pela cidade, de balaclavas, barbarizando a vida dos cidadãos, é suicídio, man!
finalizo assim: agora, ferido, Cid é um ser humano e merece toda a minha solidariedade; porém, uma vez curado, volta a ser um machão arrogante e mascarado, um coroné das típicas oligarquias que há muito entram de peito aberto a mostrar os dentes e a exibir poder; no gogó, um tipo de retroescavadeira verbal.
dessa vez tamo junto, o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
mas há ressalvas: em cima daquela retroescavadeira, El Cid foi um herói pra mim; no chão, não.
comigo ele não dança xaxado, porque fico vexado só de escutar chiado do chinelo dele.
palavra da salvação.
Lelê Teles