O escultor Cícero Alves dos Santos, o “Véio”, é o mais novo Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Sergipe. O título a este conceituado sergipano nascido em Nossa Senhora da Glória foi conferido, nessa terça-feira (5), em solenidade presidida pelo reitor Valter Joviniano de Santana Filho e realizada no auditório do Senac, em Glória. Entrevistado pelo jornalista Rafael Carvalho, da TV Sergipe, o artista considerou a homenagem normal “pelo que fiz e que estou fazendo, mas vou tentar fazer mais e melhor para que outros possam me acompanhar nessa luta”.
O título de Doutor Honoris Causa foi proposto pelo Campus do Sertão da UFS, por meio do diretor Maycon Reis, em conjunto com o diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Adriano Antunes. Com a entrega da homenagem, a universidade ratifica a relevância do trabalho de “Véio” na história cultural sergipana, reconhecido nacionalmente e internacionalmente, principalmente, pelas esculturas em madeiras mortas, que representam movimentos socioculturais por meio das suas imaginações inspiradas na vida do Sertão.
Um autodidata
O escultor Cicero Alves dos Santos nasceu em Nossa Senhora da Glória em 1948 O apelido vem de sua preferência desde a infância de estar com pessoas mais velhas para ouvir suas histórias. Autodidata, sempre se interessou pelo universo do folclore nordestino e pela vida dos sertanejos. Após utilizar a cera de abelha e o barro como materiais para as primeiras experiências com a escultura, o artista passou a usar a madeira como matéria-prima de seus trabalhos, aproveitadas de derrubadas e loteamentos abertos nas matas de Sergipe, que iriam ser descartadas.
Além de ter os costumes e a cultura sertaneja como temas centrais de sua obra, uma característica marcante é o longo comprimento das pernas e dos braços das esculturas. Ao lado de sua casa, o escultor cria o Sítio Soarte (Museu do Sertão), onde recria o modo de vida sertanejo através de obras como A Casa de Farinha, A Casa de Profissões e Igreja. No Sítio, suas obras ficam expostas ao ar livre, sob os efeitos do sol e da chuva, por escolha do escultor que acredita que as peças não devem ser preservadas para a posteridade. Segundo “Véio”, o sítio é um ambiente os as peças nascem e morrem.
“Véio” tem obras em diferentes acervos como a Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e o Museu de Arte do Rio (MAR). Participa de exposições nacionais e internacionais como a mostra coletiva Teimosia da Imaginação (2012), no Instituto Tomie Ohtake e da 56ª Bienal de Veneza, na Itália (2014). Segundo o crítico de arte Rodrigo Naves, o escultor fez da preservação da memória de seu povo a razão de sua existência, em um ambiente tão dinâmico, proporcionado pelas famosas feiras da região, o artista é criador de uma categoria diferente de arte, que mistura a “arte popular” com cores fortes e industriais, distantes da natureza.
Com informações do site Blombô