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Vida nova em Sergipe

Por Antônio Samarone *

Muita gente acha o Governo Belivaldo enfadonho, sem novidades, onde nada acontece. Ontem sua excelência apresentou um plano revolucionário. Como se diz, as coisas saem de onde menos se espera.

O Governo de Sergipe apresentou um plano de retomada da economia, supostamente centrado na evolução da epidemia, nos recursos disponíveis para a assistência, em protocolos de saúde, higiene no trabalho e na adesão da população às restrições sociais.

É o que está escrito: blá-blá-blá!

O que me chamou a atenção foram as “restrições sociais” que serão impostas.

O documento apresenta centenas de recomendações higiênicas e comportamentais que, se cumpridas, Sergipe se transformará no Japão, pela disciplina, obediência e novos modos adquiridos pela população.

Um pequeno exemplo da vida nova em Sergipe, depois do plano de Belivaldo: os Shopping Center, Galerias e Centros Comerciais serão obrigados a controlar a entrada de pessoas, utilizando senhas, aferindo a temperatura de clientes, lojistas, funcionários e colaboradores.

Nas portas das igrejas e templos religiosos ao invés de água benta vai ter álcool em gel.

Isso ainda é pouco.

A burocracia perdeu o juízo de vez, vejam essa norma do plano do governo: “nos cultos e missas em que ocorra a celebração da ceia ou comunhão, os elementos partilhados deverão estar pré-embalados para uso individual”. Se for o que eu entendi, vão embalar até hóstia consagrada, o corpo de Cristo.

Gente, se acorda! Vocês pensam o quê?

Para os consultórios médicos, o plano de Belivaldo prescreve que “os profissionais e os pacientes devem usar protetor de calçado descartável no local de atendimento”. Que peste é isso, são pantufas de papel? E nas Unidades de Saúde do SUS, vai todo mundo de “pantufas”?

Vão procurar o que fazer…

Nas recomendações gerais, o plano de Belivaldo determina: “Todos devem lavar as mãos com frequência, utilizando água e sabão ou álcool em gel 70%, e cobrir o nariz e a boca com o cotovelo dobrado ou com um tecido ao tossir ou espirrar”.

Essa recomendação eu não consigo cumprir. Já tentei cobrir o nariz com o cotovelo dobrado, e não vai! O meu cotovelo não alcança o nariz, fica longe. Nessa eu vou ser multado.

Para cobrir o nariz com o cotovelo dobrado, só sendo de circo! Deve ser uma pegadinha.

Será o início da revolução cultural sergipana, não a prevista pelos filósofos e sonhadores para o pós-Pandemia, mas a implantação do belivaldorismo.

Governador, o senhor chegou a ler o plano ou aprovou em confiança aos técnicos?

O documento acena para a liberação total da economia em seis semanas, começando em 15 de junho. Em meados de julho, no período das convenções partidárias, Sergipe volta à normalidade econômica. Perdemos o São João.

Como se percebe, o plano é uma mistura de obviedades, senso comum e extravagâncias burocráticas. Colorido e bem arrumado, mas não serve para quase nada.

Parem de besteira!

 * É médico sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.

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