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Zé Carlos, o mordomo do Serigy

Por Antonio Samarone *

No início da década de 1980, a Saúde Pública em Sergipe era comandada por José Machado de Souza, o maior pediatra da medicina em Sergipe. Um médico sem meias palavras. Um homem de princípios.

Eu, recém-chegado da pós-graduação em Saúde Pública, cheio de ideias, aluno das melhores escolas. Sonhando em mudar o mundo.

Precisava trabalhar, não existia concurso. Procurei o professor João Cardoso, em sua residência.

(Clique na foto para ampliar)

Ele ouviu os meus planos pacientemente, no final foi sucinto: nada disso vai dar certo. Ouvi calado. Ainda tinha um ponto: Professor, eu preciso trabalhar. Ele também sucinto: vou lhe dar um bilhete para o Dr. Machado, não abra, entregue a ele.

No outro dia, logo cedo, estava na porta do Serigy. Entreguei o bilhete ao Dr. Machado, que reagiu: eu não posso negar nada a João Cardoso. Estamos precisando de sanitarista. Amanhã traga os documentos. Foi contratado e já nomeado Diretor da Regional de Lagarto.

O Serigy fervilhava de gente e ideias. A Saúde Pública tinha o peso do Dr. Machado.

Logo cedo, aprendi que quem mandava no Serigy era Seu Zé Carlos (foto). Ele chegava antes das cinco da manhã e só saia depois das vinte e uma.

Ele era o zelador, a quem o Dr. Machado entregou os segredos, as chaves e o almoxarifado. Sem a boa vontade de Zé Carlos, voltava-se de mãos vazias.

Um homem simples, honesto, servidor público até a alma. Zé Carlos subia e descia escadas, puxando de uma perna, atendendo a um e a outro. Sempre dadivoso, atento, cônscio do seu poder.

Na Saúde Pública de Sergipe, convivi com muita gente preparada, enfermeiras responsáveis, médicos dedicados, auxiliares e técnicos em enfermagem, dentistas, psicólogos, assistentes sociais, economistas, planejadores, uma equipe zelosa, sob o comando de Machadão.

Não sei o porquê, mas em minha memória, domina a imagem de Seu Zé Carlos. O porteiro, o zelador, o mordomo, um homem já idoso, que cuidava de toda a logística.

Zé Carlos era mais eficiente que um inspetor do Tribunal de Contas. Nada acontecia de errado no Serigy, sem que Zé Carlos soubesse. O seu olhar era a certeza da lisura.

Seu Zé Carlos morava no Bugio. Alguém sabe o paradeiro desse herói do serviço público? Ainda é vivo?

* É médico sanitarista

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1 Comments

  1. Erica disse:

    Ele está vivo sim.

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