Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *
O nobre leitor que despende seu pouco tempo em favor des se escrevinhador pode estar se perguntando como consegui fazer essa mistura de chiclete com banana, tal qual o fez o compositor Gurdurinha, na música homônima. Peço calma, dizendo que há alguns anos atrás, escrevi um texto sobre a polícia e as escolas, que deve ter soado (à época) tão contraditório ou “obnubilador” – estou chato hoje, mas creiam sem medo tratar-se de ironia.
Mas vamos aos fatos, naquele texto, tratei das relações entre algumas escolas aracajuanas e os quartéis generais da PMSE, algo que hoje pode parecer improvável: a primeira sede do Corpo Policial sergipano em Aracaju, nos anos 20 deu lugar ao Colégio Ateneu Sergipense, tal qual a sede do Grupo Escolar (modelo) Siqueira de Menezes, passou a ser a sede do Batalhão Policial, poucos anos após ser construído/inaugurado, não por acaso, nesse mesmo Governo, Graccho Cardoso, também fez adequações em outros municípios do Estado, transformando escolas em delegacias.
Inclusive, dada a deixa, passo a atualizar uma informação pendente no texto sobre o quartel de Polícia. Naquela ocasião ficou em dúvida se a primeira sede do, então, Corpo Policial da Província, quando este se deslocou para a nova Capital Aracaju, seria de fato na então Rua da Aurora, onde hoje funciona o Museu da Gente Sergipana, ou em outro prédio. Vejamos.
É D. Pedro ll quem narra, em sua chegada à Sergipe, em Janeiro de 1860, ter encontrado o citado quartel em obras – iniciadas em 1859, destacando o pagamento do serviço de escavação do alicerce com 8 palmos de profundidade, restando outro aporte financeiro, este para o serviço de construção das subsequentes paredes/muros, estas com 30 palmos de altura.
Juntando a isso, pouco antes, os relatos dão conta da falta de estrutura da novel capital no ano de sua mudança, 1955, quando pela falta de edificações adequadas, muitas repartições transpostas de São Cristóvão funcionaram em espécies de barracões, sendo estes estruturados aos poucos, o que converge com o relato do nosso querido Pedro, o futuro traído por aquele que Osório chamou de bravo dos bravos.
Por outro lado, quando relatamos no texto anterior, já tínhamos visto um mapa de 1860 (salvo engano), com a indicação do Quartel de Polícia na Rua da Aurora, no local referenciado anteriormente. Pouco tempo depois, encontramos um mapa de 1857 (reproduzido a seguir), no qual reafirma o quartel de Polícia no endereço da Rua da Aurora.
Diante desses indícios, por enquanto, não temos motivos para duvidar que a primeira sede do nosso quartel tenha sido neste local, atual museu. Sigamos.
Voltemos ao título: as relações entre cadeias, capitais sergipanas e secretarias de saúde.
Antes de que outra dúvida se coloque, convém lembrar que Sergipe teve – não tem! – mais de uma cidade como sede de sua Capital: São Cristóvão e Aracaju. Aquela, desde 1920 e a última à partir de 1955.
Pois bem, na Capital São Cristóvão, ao estabelecer sua estrutura administrativa naquele período, foi reservada a função de Cadeia da Província a um prédio situado na atual Praça Getúlio Vargas (esquina com Erondino Prado, no maps, diz ser Rua Tobias Barreto). Nesse imóvel, além de Cadeia – que mesmo após a mudança da Capital continuaria recebendo presos de Aracaju dada a precariedade da nova Capital, como observou D. Pedro II em seu diário, também sediaria a Casa de Câmara (Câmara de Vereadores, que funcionava com poderes executivos, ate um tempo), responsável pela administração da cidade.
Essa edificação receberia outras repartições, inclusive um Grupo Escolar, no Governo Graccho Cardoso, que a reformou para tal intento.
Como dito, com a mudança da Capital em 1855, a administração provincial foi levada à Cidade de Aracaju, que não possuía estrutura mínima, tendo instalado algumas das repartições em barracões, inclusive.
Neste contexto, a nova Casa de Prisão província, foi instalada em localização estratégica, ao lado do prédio que recebeu a Tropa de Linha (Exército), não na mesma rua, mas na mesma praça (Pça. General Valadão, 32. centro). A cadeia permaneceria ali por todo o resto do século XIX, até que ele, Graccho Cardoso, decidisse criar a Penitenciária Modelo, que construiria em local mais afastado, no hoje Bairro América, para onde a detenção logo seria transferida, após construção e inauguração, pelo próprio.
Ai chegamos no ponto: caso alguém tenha pesquisado os endereços que referi, já conseguiram entender o título deste artigo.
Mas quem não ainda entendeu, vamos nos atentar ao fato de que na esquina da Rua Erondino Prado/Tobias Barreto em São Cristóvão, hoje funciona a sede da Secretaria Municipal de Saúde.
Já a antiga Casa de Prisão de Aracaju, esta foi demolida no Governo de Graccho Cardoso e, em seu lugar foi construído o Palácio Serigy, que oferecei diversos serviços de saúde e, há algumas décadas sedia a Secretaria da Saúde do Estado.
Curioso saber que além de termos permutas de sedes entre escolas e quartéis, também tivemos essas trocas de sedes entre cadeias e repartições de saúde. Não se trata de nada misterioso, pois não é difícil entender a conveniência e oportunidade que permearam tais decisões, diante da funcionalidade de tais edificações, apesar tais correlações soarem curioso sim à primeira vista.
Por fim, uma pequena curiosidade histórica da nossa corporação.
Em 1891, nosso Corpo policial era formado por 405 bravos policiais. Desse total, 16 eram “Officiaes” e 389 “Praças de Pret”, incluindo o corpo musical, que alcançava quase 10% deste efetivo. O grosso do armamento de fogo, eram “mosquetões” da marca Comblain e revólveres Girard.
Nesse período, a loja especializada “Cunha, Guimarães e Cia”, era responsável pelo fornecimento de materiais policiais à corporação. O comandante da Corporação, à época, era um “Offical Inferior” da Tropa de 1ª Linha, comissionado Major do Corpo Policial, Antônio Pereira Ribeiro.
Por fim, não se voltarmo-nos para a Penitenciária Modelo do Bairro América, que foi construída em substituição à cadeia da praça Gal. Valadão, veremos que esta foi desativada em 2007/2008, quando já se chamava Casa de Detenção de Aracaju e hoje, dentre outras repartições da Secretaria de Justiça, recebe também a EGESP, Escola de Gestão Penitenciária.
É isso!
* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)